Aviso: O conteúdo aqui apresentado tem uma finalidade exclusivamente informativa sobre um tipo específico de jogo e como jogá-lo. O objetivo deste conteúdo não é nem promover nem disponibilizar um tipo de jogo, mas simplesmente informar o jogador acerca de como jogá-lo.


Fazer bluff é ótimo. Não há grandes dúvidas disso. Mandar 3 barris e ver o fold do adversário no river depois de estar no tank 2 ou 3 minutos é um misto perfeito de tensão e emoção. 

Sim, é tenso, mas nada pode replicar aquele nervoso miudinho e sensação extenuante de adrenalina quando o nosso adversário está há 3 minutos a pensar na sua decisão no river.

  • O coração acelera e o estômago anda às voltas.
  • Esperamos, impávidos e serenos por fora, mas destruídos por dentro.
  • Observamos, preocupados, a mão do nosso Némesis a passear entre as cartas e as fichas.

É uma montanha russa de emoções que terminará em alegria ou mágoa. E é, também, uma das coisas mais bonitas no poker.

Faz-nos sentir vivos.

A não ser que o nosso adversário tenha o nuts, obviamente... se tiver, então fazer bluff é horrível! E sim, maus bluffs no poker acontecem com mais frequência do que se calhar imagina.

Por muita satisfação que fazer bluff nos proporcione, é muito mais importante no poker do que as pessoas pensam. Apesar de ser verdade que o jogo pode funcionar perfeitamente sem esse elemento, não seria o mesmo jogo que conhecemos hoje. Simplesmente não poderia ser.

Sem bluffs, não haveria:

  • Hero calls;
  • Polarização de ranges;
  • Drama;
  • Angústia;
  • Forma de nos expressarmos.

O poker tornar-se-ia num jogo centrado exclusivamente à volta de apostas por valor e folds disciplinados. É inegável que estas são já habilidades vitais no poker. Mas são, também, a parte chata, irritante e dolorosa que a maioria não gosta no poker.

Não haveria emoção nem “e ses” no poker sem bluffs. Não existiria o receio de sermos insultados enquanto vemos o nosso adversário fazer muck à mão que seria a vencedora. Não haveria qualquer drama tirando os coolers e os erros cometidos.

O poker passaria a ser um jogo monótono, doloroso e stressante. E quem é que iria gostar de um jogo assim?

Índice

  1. O Que é o Bluff?
  2. Passo 1: Qual o Motivo Por Que Quer Fazer Bluff?
  3. Passo 2: É Necessário?
  4. Passo 3: Quem a Board Favorece?
  5. Passo 4: O Bluff Faz Sentido?
  6. Passo 5: Escolher o Sizing Certo
     

O Que é o Bluff?

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Fazer bluff é o ato de colocar fichas no pote com pouca ou nenhuma equity. Você espera ganhar o pote depois do seu adversário fazer fold de uma mão melhor que a sua. Normalmente, isto aconteceria depois de você fazer uma aposta, mas também pode fazer call em bluff, com a intenção de fingir que tem uma boa mão mais tarde.

Como a maioria das coisas, fazer bluff parece bastante simples, teoricamente. Mas, na prática, é algo que é mais fácil de dizer do que fazer. 

Por isso, sem mais rodeios, eis o guia passo-a-passo para o ajudar a ter mais sucesso nos seus bluffs.

Passo 1: Qual o Motivo Por Que Quer Fazer Bluff?

A primeira coisa que tem de considerar quando está a decidir se deve, ou não, fazer bluff é o motivo pelo qual o quer fazer. Este pensamento pode parecer óbvio, mas há muita emoção e egos envolvidos no poker. Estes sentimentos podem impactar de forma negativa as decisões dos jogadores.

Autocontrolo tem um papel muito importante no poker. Muitos jogadores super talentosos têm dificuldade em se manterem relevantes neste jogo devido a serem pouco disciplinados. Ou jogam tão mal durante 2% do tempo que anulam o seu brilhantismo nos restantes 98%.

Autocontrolo é o maior obstáculo que um jogador de poker deve ultrapassar. Muitos dos jogadores são autogovernados, rebeldes selvagens com a liberdade de não responder a ninguém para além de si próprios. Por isso, pode ser difícil manter o controlo sem um executor ativo.
 

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Até com as mais incríveis habilidades de poker do mundo, sem autocontrolo você estará condenado ao insucesso. Isto é especialmente verdade no que toca a fazer bluff, já que está a investir as suas fichas com pouca ou nenhuma equity.

  • Fazer bluff é uma operação de alto risco com o potencial de ser devastadora.

Uma mão cheia de grandes e injustificáveis bluffs pode ser suficiente para arruinar completamente o progresso de uma semana. Portanto, é essencial ser objetivo e honesto sobre o porquê de querer fazer bluff antes de avançar com o mesmo. 

Considerando que somos apenas humanos, esta é daquelas coisas que mais facilmente dizemos do que fazemos. As nossas emoções e o nosso ego são poderosíssimos. Estes dois fatores acabam por fazer com que procuremos justificação para aquilo que queremos fazer em vez daquilo que devemos fazer.

Para além disso, as coisas podem tornar-se pessoais nas mesas. Portanto, é crucial ter a certeza de que está a escolher a pessoa certa para fazer bluff pelos motivos certos.

  • É bom parar e respirar fundo antes de tentar um grande bluff.
  • Reflita durante algum tempo sobre o que está prestes a fazer.
  • Garanta que está a pensar claramente.
  • Não deixe que um pouco de tilt se infiltre e tolde o seu julgamento.

Ainda pretende fazer bluff? OK, mas pergunte a si mesmo as duas seguintes questões:

1. Estou prestes a fazer um check-raise no river porque, estrategicamente, faz sentido?
2. Estou chateado por ter falhado mais um enorme combo draw no river?

Infelizmente, “estou a fazer bluff porque... que se lixe este tipo!” não é uma desculpa válida.

É bom relembrar que tendo em conta que você não tem muito tempo para agir no poker online, é mais fácil deixar o impulso afetar as suas decisões. Por isso, é boa ideia encontrar formas inovadoras de maximizar os poucos segundos que tem.

Uma boa dica é utilizar o tempo que o seu adversário demora a agir. Deixe o relógio andar um bocadinho quando a ação está do seu lado. Use este tempo para considerar a sua próxima jogada.
 

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Perder tempo sem motivo aparente é considerada má etiqueta, mas abrandar para manter a calma não é. É um excelente hábito que todos deveriam ter nas mesas. E ajuda muito mais do que passar tempo a escolher a música certa, navegar nas redes sociais ou dar festas ao gato... e não, não é um eufemismo!

Passo 2: É Necessário?

Quando está confiante de que está calmo e não em tilt, o passo seguinte é decidir se fazer bluff é necessário. Este processo requer uma boa compreensão da força relativa de uma mão. É tudo uma questão de pesar o seu showdown value (valor em showdown) em relação ao range de mãos do seu adversário. 

Mais uma vez, isto parece ser bastante óbvio, mas vamos elaborar:

Força Relativa da Mão

  1. Se a sua mão for mais forte do que o range de mãos com que você pensa que o seu adversário fará call, então está a apostar por valor (você espera ganhar a maioria das vezes que levar call).
  2. Se o seu adversário apenas fizer call com mãos melhores, então você estará a fazer bluff.

Este raciocínio parece senso comum, mas repare que isto é baseado no quão forte é a sua mão relativamente ao range de call do seu adversário e não em relação ao range total. Muitos esquecem-se disto. Não é pouco comum ver jogadores mais fracos a investir demasiado com certas mãos e a fazer bluffs desnecessários.

  • Eles escolhem situações em que têm um showdown value razoável contra o range total dos adversários.
  • Mas não compreendem que os adversários não vão fazer call com mãos piores tão frequentemente quanto necessário.

Digamos que você tem A♠T♠ numa board 3♥7♥8♠2♣2♦. O seu adversário faz check depois de defender a BB pré-flop e check-call a apostas no flop e turn.

Considerando que ele tem muitas mãos melhores do que você no seu range, pode sentir-se compelido a apostar nesta situação. Pode tentar fazê-lo desistir de alguns pares de mão ou mãos tipo 7x ou 8x (o que, já agora, é provável que não aconteça).

Mas na realidade, normalmente faz mais sentido fazer check pelo seguinte:

  • O seu AT tem bastante showdown value neste spot. O seu adversário tem muitas mãos que você ainda pode bater, como draws e outras mãos com carta-alta. Fazer check permite-lhe realizar toda a equity destas mãos.
  • É improvável que leve call de mãos que você bate (como draws e outros Ás-alto que tinham planos para as streets finais, mas desistiram).
  • O seu adversário tem muitas mãos no range com que pode fazer call.

Apesar do seu adversário poder fazer fold a um bluff, ele provavelmente fá-lo-á com um range similar àquele que você bateria ao fazer check.

Portanto, fazer bluff não atinge qualquer fim a não ser aumentar o risco de perder mais fichas. 
 

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Antes de passar à ação, perca algum tempo a considerar a força relativa e o showdown value da sua mão. Regra geral, é melhor fazer bluff com mãos que não conseguem ganhar em showdown. Ah, e caso decida fazer check-back e perca, não quer necessariamente dizer que cometeu um erro. Não é suposto ganhar todas as vezes que vai a showdown.

Se for improvável que você tenha a melhor mão e quer ainda fazer bluff, então siga em frente para o terceiro passo deste guia.

Passo 3: Quem a Board Favorece?

Agora você sabe que tem de fazer bluff para ganhar. Torna-se numa questão de saber se a board é mais favorável para o seu range ou para o range do seu adversário. A regra é muito simples:

  • Se o runout for bom para si, deve querer fazer mais bluffs;
  • Se não é, então está na altura de relaxar e pensar em desistir do pote.

Eis um exemplo para ajudar a clarificar esta questão:

Digamos que você fez um pequeno open-raise de middle position pré-flop. Nunca viu o jogador que está na big blind e não consegue presumir a forma dele jogar com base no seu aspeto.

Esse jogador faz call e ambos vêem o flop 8♥3♣6♠. Você falha e dispara uma continuation bet (a sua mão é irrelevante nesta situação porque estamos apenas a olhar para a textura da board).

O seu adversário faz call e o turn é um Ás.

Como deve imaginar, esta carta é excelente para fazer bluff. É uma carta melhor para o seu range do que para o do seu oponente. Deverá haver uma maior percentagem de mãos Ax no seu range de RFI pré-flop do que no range de defesa da BB do seu adversário (é provável que ele tenha um range amplo de defesa face a um pequeno raise pré-flop. Este facto reduz a probabilidade dele ter Ax).

Ele teria feito 3-bet com, pelo menos, AA, AK e AQ por valor (acompanhados de alguns Ax mais fracos como bluff). Por isso, o call pré-flop reduz, ainda mais, as combinações de Ax.

Não é pouco comum fazer c-bet mais do que o normal heads-up. Para além disso, a sua mão irá conectar com o Ás bastantes vezes neste contexto, o que dá credibilidade ao seu bluff no turn. 

Simplificando, esta carta é melhor para si do que para o seu adversário. Por isso faz sentido tentar o bluff.
 

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Regra geral, overcards altas que não conectam com as mãos com que o nosso adversário fará check-call no flop são, normalmente, boas cartas para fazer bluff.

Semelhantemente, devemos provavelmente considerar abrandar mais vezes em turns como 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10. É provável que estas cartas ajudem o vilão ou lhe dêem uma boa oportunidade para virar o bluff contra nós.

Posto isto, se gosta do runout e ainda quer tentar o bluff, então siga para o Passo 4.

Passo 4: O Bluff Faz Sentido?

Neste passo, você tem de considerar se o seu bluff fará sentido. Este passo tem muito em comum com o anterior. Você terá de considerar a textura da board e os ranges dos jogadores.

Na mão que vimos em cima, por exemplo, digamos que você era o jogador na big blind e decidiu fazer donk-bet no turn Ás. Não faria muito sentido como bluff porque é muito provável que o seu adversário aposte muitas vezes esta carta.

Por isso, quando você tem uma mão de valor, deveria dar-lhe uma oportunidade para fazer bluff, especialmente contra um jogador desconhecido. 

Lembre-se, um bom bluff é como contar uma excelente história, o que significa que é necessário um enredo sólido e uma boa execução.

Não precisa de ser um best-seller, mas, se algo não fizer sentido, os seus adversários irão duvidar e a probabilidade de fazerem call aumenta!

Passo 5: Escolher o Sizing Certo

Assim que termine o primeiro processo de decisão, tem de considerar o tamanho da sua aposta. Bet sizing é uma autêntica arte no poker. Mas tem de ter especial cuidado quando está a fazer bluff. É muito fácil torrar dinheiro, ao perder todas as fichas que investiu em showdown.

Lembre-se, a beleza do No Limit Texas Hold’em vem da liberdade que lhe é dada em relação ao tamanho das apostas. E, normalmente, não há um sizing correto de qualquer forma. Até os solvers de GTO utilizam estratégias mistas nesse aspeto.
 

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Contudo, esse facto não lhe dá rédea solta. Um dos maiores erros que os jogadores cometem quando fazem bluff é fazerem apostas demasiado grandes para maximizar o nível de pressão que colocam sobre os adversários. Mas esta jogada nem sempre faz sentido. Apesar de ser verdade que a probabilidade do seu adversário fazer fold aumenta face a apostas maiores, a chave é encontrar um equilíbrio.

Apostar duas vezes o tamanho do pote resulta em mais folds do que apostar meio pote, mas também precisa de funcionar quatro vezes mais para ser tão lucrativo.

A lucratividade de um bluff está interligada aos três seguintes fatores principais:

1. O tamanho do pote;
2. Quão grande é a sua aposta;
3. A probabilidade do seu adversário fazer call.

Lembre-se, quando está a fazer bluff, irá perder quando leva call. Por isso, é essencial garantir que está a arriscar o mínimo necessário para atingir o objetivo. Pode ser flexível com o seu sizing, mas ele tem de ser credível e eficaz. 

Como dissemos acima, bet sizing é uma arte. Portanto, não se apresse e considere todos os fatores antes de atirar qualquer ficha para o lado de lá da linha.

Siga estes passos e deverá perder muito menos vezes a fazer bluffs do que atualmente. E caso precise de ainda mais dicas para fazer bluff, pode encontrá-las aqui.

Boa sorte e bons bluffs!

Amante e jogador de poker, Frederico traz temas de interesse sobre a modalidade para o nosso blog. Artigos sobre estratégia, dicas, notícias ou simples curiosidades marcarão presença assídua aqui, na 888Poker.